Reitor da UFSC envia ofício rebatendo críticas do prefeito Clésio Salvaro (PSDB)

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Ubaldo Cesar Balthazar pede que instituições se posicionem firmemente contra atos que tentam desqualificar o ensino público

 

O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ubaldo Cesar Balthazar, enviou ofício ao prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), na última quarta-feira (11), rebatendo as críticas feitas pelo chefe do Executivo municipal em relação à Universidade. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Salvaro afirma que a UFSC está “parada”, “não funcionando”, contesta a qualidade do ensino e sugere que se fechem “de forma definitiva” todas as universidades públicas.

De acordo com o reitor, o discurso demonstra “desconhecimento das contribuições que as universidades federais têm demonstrado ao longo de sua história e, obviamente, um raso preconceito sobre o papel da ciência, da pesquisa e das instituições no desenvolvimento local e nacional e no combate à pandemia”.

Ubaldo ainda destaca que, fechar universidades públicas significaria privar milhares de pessoas do acesso ao ensino superior de altíssima qualidade O reitor ainda chama a atenção para o quão fundamental é que as instituições se posicionem firmemente contra todos os atos que ameaçam o ensino público superior. “Querer uma Universidade para poucos é condenar a nação ao desprezo, à ignorância, à ausência completa de perspectiva para futuro”, diz a nota.

Confira abaixo a íntegra no texto enviado:

Senhor Prefeito,

 

Tendo tomado conhecimento, na tarde desta segunda-feira, dia 9 de agosto de 2021, de vídeo publicado por Jornal de circulação regional em Santa Catarina, disponível no link https://ndmais.com.br/educacao/em-video-prefeito-sugere-fechamento-de-universidadesfederais-caso-nao-retomem-atividades/, surpreendeu-nos a sua manifestação ao afirmar que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está “parada”, “não funcionando”, contestando a qualidade do ensino e, o que julgamos mais grave, senhor prefeito, a menção de que se deva “fechar de forma definitiva” todas as universidades públicas, incluindo aí a UFSC.

Em nome das relações institucionais saudáveis e harmônicas, as quais defendemos entre todos os entes do Estado, ainda que possamos, como gestores públicos, discordar uns dos outros, é necessário e fundamental que saibamos conviver, em uma Democracia, na base do diálogo e do convívio respeitoso e equilibrado.

Sua fala, senhor prefeito, revela, no mínimo, o desconhecimento das contribuições que as universidades federais têm demonstrado ao longo de sua história e, obviamente, um raso preconceito sobre o papel presente e essencial da Ciência, da Pesquisa e de nossas instituições no desenvolvimento local e nacional e no combate à pandemia.

Para ficar apenas na sua região, o senhor possivelmente conhece os inúmeros projetos desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida, a indústria, a educação, resultando em benefícios às populações não apenas de Criciúma, mas à região Sul de Santa Catarina como um todo.

Suas palavras não nos abalam como reitor. Como qualquer gestor público responsável e cioso de seu papel, correspondemos aos votos que a comunidade universitária em nós depositou, atitude que, julgamos, também lhe movam. Suas palavras agridem, isso sim, uma comunidade de mais de 50 mil pessoas, que extrapola um único município e alcança, além de Florianópolis, também Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville. Suas palavras ofendem milhares de jovens que têm, na UFSC, a única oportunidade de acesso ao ensino superior, muitos deles, certamente, oriundos da cidade que o senhor administra, e quantos outros tantos egressos, formados com a qualidade da UFSC e que hoje, certamente, desenvolvem atividades profissionais em inúmeras áreas no seu município. E isso, prefeito, nos entristece.

Fechar as universidades públicas é privar milhares de brasileiros e brasileiras do acesso ao ensino superior público de altíssima qualidade; fechar as Universidades Públicas é pretender calar o conhecimento, reprimir o pensamento crítico, sufocar gerações de cidadãos e cidadãs que têm, nessas instituições, a oportunidade única de ascender socialmente e de se desenvolver como seres humanos.

E isso, senhor prefeito, consideramos vergonhoso! Negligenciar tamanha relevância não deveria ser atitude de um gestor público, que tem sob seu comando uma cidade inteira, do porte e da importância de Criciúma. Ou o senhor também defende o fechamento da saúde pública, dos serviços públicos, da educação pública? E em nome de que lógica o faz? Fazendo pouco caso da tragédia da pandemia? Ignorando as milhares de vítimas do descaso e do descompromisso de outros gestores públicos que, conforme se vê, voltaram seus esforços não para prover a nação da proteção da ciência, mas para promover a ignorância e o obscurantismo?

Esperamos, honestamente, que sua atitude seja devidamente reparada e que o senhor próprio reveja sua fala. Se não em respeito à UFSC e às pessoas que a constroem há 60 anos e continuam por fortalecê-la, que o faça em respeito às vidas perdidas, fruto de uma política desastrosa de alguns (poucos) mandatários, que preferem minimizar a catástrofe, com manifestações levianas e intimidações irresponsáveis.

Sugerimos que repense seu discurso, senhor prefeito!

Atenciosamente,

 

UBALDO CESAR BALTHAZAR

Reitor

 

Com informações da Universidade Federal do Estado de Santa Catarina

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